Pensava eu que Malcolm & Marie seria um filme de difícil análise, até que a China me presenteia com esta película animada que rompe com todos os cânones da fantasia e de mitologia densa que me deixa abismado com a qualidade de animação, ao mesmo tempo que perplexo com a quantidade de referências conhecidas do público generalista. Jiang Ziyaé o segundo capítulo de uma trilogia animada chinesa que utiliza a mitologia mais famosa do país e a coloca numa história repleta de magia, personagens adoráveis e uma missão que implica sacrifícios. Não é o tipo de animação convencional que estamos habituados da Pixar ou de mensagens infantis absorvidas pelo anime japonês de cinema. É um conto muito particular, onde é necessária uma certa pesquisa para entendermos o sumo maior da sua complexidade. No entanto, de seguida iremos lançar a crítica do primeiro filme, Ne Zha, que deu origem a esta trilogia, sendo que o terceiro capítulo ainda estará por vir.
Jiang Ziya acompanha a história de um herói mitológico do mesmo nome, que depois de derrotar as forças do mal, está na iminência de se tornar um deus. Mas, para finalizar esta transição, é-lhe dada uma última tarefa: derrotar o demónio Daji (de onde o PokémonNinetales é inspirado) que é a razão primária desta guerra. Ao tentar cumprir a sua missão, Jiang Ziya depara-se que este demónio está a usar uma jovem rapariga como refém, e os seus esforços fracassam em levar a cabo a matança. Daji acaba por escapar do reino dos deuses, e Jiang Ziya é renegado ao mundo dos mortais, esperando estação após estação por uma oportunidade de ascender novamente a esta versão do Olimpo. Ao despertar neste mundo novo, Jiang Ziya conhece a jovem Xiao Jiu, que tem traços da rapariga outrora refém do demónio que era suposto aniquilar, e embarca numa aventura com a mesma à procura de respostas para a ligação entre ela e Daji e de evitar que esta seja a próxima vítima de uma guerra divina.
Jiang Ziya é um filme animado que vai buscar traços mitológicos da Grécia antiga, recordando-nos das proezas heroicas de Hércules, para além de uma pitada nórdica do deus Thor renegado para o plano dos mortais. É um exercício animado com um tipo de animação diversificado, saltitando entre o 3D e o 2D para estabelecer um aspeto artístico distinto do habitual. Já há muito que procurava algo de fantasia que me deixasse investido desta forma, e este estilo animado é algo muito especial e refrescante, já que funciona como um híbrido que adota uma identidade própria e convicta. Ainda que as personagens sejam adoráveis e o seu desenvolvimento acompanhe gradualmente este mundo carregado de simbolismos mitológicos, Jiang Ziya acaba por perder o controlo da quantidade de referências que tem no seu corpo visual, tornando-se algo confuso para os expectadores que não estão familiarizados com a mitologia chinesa. Entre locais desconhecidos, deuses pouco explorados, e personagens inspiradas em figuras que foge ao conhecimento do povo ocidental, Jiang Ziya acaba por afogar-se nas suas ambições e tornar-se um incomodativo com a inexistência de uma linearidade essencial. É um caso raro de cinema onde gostamos do que estamos a ver, mas pouco nos é entregue sobre o que é que estamos a ver. A densidade da história acaba por fraquejar Jiang Ziya como um produto singular porque a história dispara para todo o lado e nunca nos explica devidamente os eventos que decorrem perante os nossos olhos.
Há também uma questão da animação que nem sempre funciona, especialmente nalgumas sequências de ação onde a montagem impede que o público consiga perceber o que está a acontecer. No entanto, rapidamente nos esquecemos disso porque, não se deixem enganar, Jiang Ziya tem alguns trunfos na manga deliciosos, especialmente porque não poupa a momentos de dor e tristeza. Algo que, ultimamente, tem sido ofuscado dos filmes animados de Hollywood. Sentimos que, mesmo estando perante uma animação apelativa para crianças, há todo um nicho de sensatez em retratar a perda de forma emotiva, reforçando a ideia de que a morte está sempre associada com guerra. Isto acaba por elevar Jiang Ziya a algo ainda mais interessante, ainda que nos sintamos confusos com muitos dos aspetos da sua história.
Se estão à procura de uma animação diferente do habitual, carregada (diria mesmo a transbordar) de referências mitológicas que desconhecem e se são ávidos adeptos de fantasia, Jiang Ziya irá conquistar-vos, nem que seja pelos mesmos motivos que me conquistaram a mim. Mas, pelo menos, fiquem avisados de que é extremamente difícil acompanhar os acontecimentos e entender as ligações que regem as personagens e o porquê das suas jornadas pessoais. Ainda assim, há todo um mundo novo para explorar, com uma animação híbrida cativante, com uma direção de fotografia espantosa e personagens que nos conquistam pela sua doçura, mesmo que muitas vezes não entendamos aquilo que elas, realmente, são. Jiang Ziya é uma obra animada complexa e irá dividir os expectadores, mas penso que todos irão concordar que o amoroso Four Alike é qualquer coisa de magnífico!
CONTÉM SPOILERS DE JIANG ZIYA!
Pensava eu que Malcolm & Marie seria um filme de difícil análise, até que a China me presenteia com esta película animada que rompe com todos os cânones da fantasia e de mitologia densa que me deixa abismado com a qualidade de animação, ao mesmo tempo que perplexo com a quantidade de referências conhecidas do público generalista. Jiang Ziya é o segundo capítulo de uma trilogia animada chinesa que utiliza a mitologia mais famosa do país e a coloca numa história repleta de magia, personagens adoráveis e uma missão que implica sacrifícios. Não é o tipo de animação convencional que estamos habituados da Pixar ou de mensagens infantis absorvidas pelo anime japonês de cinema. É um conto muito particular, onde é necessária uma certa pesquisa para entendermos o sumo maior da sua complexidade. No entanto, de seguida iremos lançar a crítica do primeiro filme, Ne Zha, que deu origem a esta trilogia, sendo que o terceiro capítulo ainda estará por vir.
Jiang Ziya acompanha a história de um herói mitológico do mesmo nome, que depois de derrotar as forças do mal, está na iminência de se tornar um deus. Mas, para finalizar esta transição, é-lhe dada uma última tarefa: derrotar o demónio Daji (de onde o Pokémon Ninetales é inspirado) que é a razão primária desta guerra. Ao tentar cumprir a sua missão, Jiang Ziya depara-se que este demónio está a usar uma jovem rapariga como refém, e os seus esforços fracassam em levar a cabo a matança. Daji acaba por escapar do reino dos deuses, e Jiang Ziya é renegado ao mundo dos mortais, esperando estação após estação por uma oportunidade de ascender novamente a esta versão do Olimpo. Ao despertar neste mundo novo, Jiang Ziya conhece a jovem Xiao Jiu, que tem traços da rapariga outrora refém do demónio que era suposto aniquilar, e embarca numa aventura com a mesma à procura de respostas para a ligação entre ela e Daji e de evitar que esta seja a próxima vítima de uma guerra divina.
Jiang Ziya é um filme animado que vai buscar traços mitológicos da Grécia antiga, recordando-nos das proezas heroicas de Hércules, para além de uma pitada nórdica do deus Thor renegado para o plano dos mortais. É um exercício animado com um tipo de animação diversificado, saltitando entre o 3D e o 2D para estabelecer um aspeto artístico distinto do habitual. Já há muito que procurava algo de fantasia que me deixasse investido desta forma, e este estilo animado é algo muito especial e refrescante, já que funciona como um híbrido que adota uma identidade própria e convicta. Ainda que as personagens sejam adoráveis e o seu desenvolvimento acompanhe gradualmente este mundo carregado de simbolismos mitológicos, Jiang Ziya acaba por perder o controlo da quantidade de referências que tem no seu corpo visual, tornando-se algo confuso para os expectadores que não estão familiarizados com a mitologia chinesa. Entre locais desconhecidos, deuses pouco explorados, e personagens inspiradas em figuras que foge ao conhecimento do povo ocidental, Jiang Ziya acaba por afogar-se nas suas ambições e tornar-se um incomodativo com a inexistência de uma linearidade essencial. É um caso raro de cinema onde gostamos do que estamos a ver, mas pouco nos é entregue sobre o que é que estamos a ver. A densidade da história acaba por fraquejar Jiang Ziya como um produto singular porque a história dispara para todo o lado e nunca nos explica devidamente os eventos que decorrem perante os nossos olhos.
Há também uma questão da animação que nem sempre funciona, especialmente nalgumas sequências de ação onde a montagem impede que o público consiga perceber o que está a acontecer. No entanto, rapidamente nos esquecemos disso porque, não se deixem enganar, Jiang Ziya tem alguns trunfos na manga deliciosos, especialmente porque não poupa a momentos de dor e tristeza. Algo que, ultimamente, tem sido ofuscado dos filmes animados de Hollywood. Sentimos que, mesmo estando perante uma animação apelativa para crianças, há todo um nicho de sensatez em retratar a perda de forma emotiva, reforçando a ideia de que a morte está sempre associada com guerra. Isto acaba por elevar Jiang Ziya a algo ainda mais interessante, ainda que nos sintamos confusos com muitos dos aspetos da sua história.
Se estão à procura de uma animação diferente do habitual, carregada (diria mesmo a transbordar) de referências mitológicas que desconhecem e se são ávidos adeptos de fantasia, Jiang Ziya irá conquistar-vos, nem que seja pelos mesmos motivos que me conquistaram a mim. Mas, pelo menos, fiquem avisados de que é extremamente difícil acompanhar os acontecimentos e entender as ligações que regem as personagens e o porquê das suas jornadas pessoais. Ainda assim, há todo um mundo novo para explorar, com uma animação híbrida cativante, com uma direção de fotografia espantosa e personagens que nos conquistam pela sua doçura, mesmo que muitas vezes não entendamos aquilo que elas, realmente, são. Jiang Ziya é uma obra animada complexa e irá dividir os expectadores, mas penso que todos irão concordar que o amoroso Four Alike é qualquer coisa de magnífico!
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Título: Jiang Ziya
Título Original: Jiang Ziya
Realização: Teng Cheng & Li Wei
Elenco: Zheng Xi, Yang Ning, Tutehameng.
Duração: 110 min.
Trailer | Jiang Ziya
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