CONTÉM SPOILERS DE RAISED BY WOLVES!
A nova série de Ridley Scott (e a sua primeira) foca-se em dois androides que criam crianças humanas num planeta virgem. É uma premissa de ficção científica que estamos acostumados já no vasto histórico deste cineasta. É uma série ambígua, com alguns senãos e com algumas características interessantes e que nos deixam, por um lado agarrados à sua vastidão argumentativa, por outro deixa-nos constantemente a duvidar das intenções da mesma. Ainda assim é um registo peculiar de televisão que chega mesmo na altura certa para investirmos o nosso tempo a conhecer um mundo novo e personagens particularmente diferentes e estranhas.

O MELHOR:
Raised by Wolves conta com prestações magníficas de alguns membros do seu elenco.
Amanda Collin e Abubakar Salim lideram esta narrativa com garra, numa tentativa de humanizar o ser robótico e mecânico. É também interessante a maneira como a série os trabalha de forma diferente, dando poder à protagonista Mother (Collin) como sendo uma máquina de guerra extremamente volátil e perigosa e a Father (Salim) conferindo-lhe uma doçura e dedicação que rompe com os estereótipos de género que estamos acostumados nas séries em geral.
Há também uma componente técnica bastante inovadora, desde a direção de fotografia, aos visuais específicos, nomeadamente o design de produção e cenários saídos de uma epopeia científica como o universo de Star Wars. A tela é quase sempre pintada num tom desgastado, como se o ar do planeta estivesse desprovido de cor. Para além disto, a construção narrativa, ainda que com bastantes percalços, não deixa de nos intrigar e o fluxo narrativo é extremamente diferente do habitual. Isto é, as respostas que procuramos nunca chegam na altura que queremos e, por muito enervante que seja, é um artifício atípico e que rompe com a estrutura televisiva cliché.
É também de salientar que o jovem Winta McGrath consegue arcar com responsabilidades importantes na série, ainda que o mistério da sua personagem esteja longe de ser desvendado. Ainda assim, em termos de atores, é bom ver Travis Fimmel a regressar a um papel diferente do habitual, ainda que as características de um não-muito-longínquo Ragnar Lothbrok se façam sentir na sua presença.
Mas a verdade é que é difícil definir Raised by Wolves e arranjar um equilíbrio entre a sua ambição e aquilo que, de facto, nos entrega. Se é má? Não, de todo; mas tem muitos aspetos que não funcionam na totalidade e há algumas arestas que se atrapalham a serem dadas ao público.

O PIOR:
Para além de alguns efeitos visuais penosos e demasiado ambiciosos para o caché, Raised by Wolves tem uma história que se aproxima a uma versão apocalíptica de Alien.
Como já todos sabemos, Ridley Scott é o criador e mentor deste franchise icónico do cinema, mas prefere dar continuidade ao mesmo sem necessidade, tentando desenfreadamente imortalizar a sua carreira em torno do mesmo e cuja ambição está a arruinar algo que já tem a sua marca definitiva na arte. Mas, opiniões à parte acerca disto, esperemos bem que Raised by Wolves não seja, de todo, a aproximação que estou a pensar. Mas tirem as vossas próprias conclusões neste aspeto.
Para além destes visuais estranhos e pouco credíveis, Raised by Wolves não é estável em definir o que e quem são as suas personagens. Há toda uma narrativa interessante mas pouco explorada sobre a espécie humana na série e, pior do que isso, é ainda mais difícil acompanhar o estado emocional (que supostamente seria inexistente) do duo protagonista. Tanto agem mecanicamente, como os robôs que são, como parecem seres humanos que nutrem todo o tipo de sentimentos. Uma jogada arriscada e que, para mim, torna ainda mais desafiante a análise da série.
Outra questão que me parece um pouco rebuscada e que vai dar que falar em temporadas futuras é a forma como o tempo decorre no planeta onde as personagens se encontram. Há algo em mim que me diz que este planeta é cíclico no tempo e que as personagens do passado se misturam com as do futuro, tornando a história interessante mas, ao mesmo tempo, ridícula. Acho que terão uma opinião semelhante assim que chegarem ao final da temporada. Mas, quer se ame, quer se odeie, Raised by Wolves é uma mistura muito estranha de elementos que, tanto funcionam, como não.
É daquelas experiências que, por muito que queira dizer que não presta, não consigo; mas também não consigo propriamente definir o que a série pretende fazer e/ou alcançar com a sua narrativa geralmente confusa e sem respostas. Só mesmo nos futuros capítulos é que (espero eu) consiga descobrir a sua verdadeira essência.

Estado da Série: RENOVADA
Leiam outras Mini-Reviews aqui.
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65
100
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Raised by Wolves é uma série muito pouco estável que, embora tenha elementos extremamente interessantes e diferentes do habitual, não deixa de surpreender pela negativa em muitos outros e, pior do que isso, ainda não se conseguiu definir na totalidade.
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CONTÉM SPOILERS DE RAISED BY WOLVES!
A nova série de Ridley Scott (e a sua primeira) foca-se em dois androides que criam crianças humanas num planeta virgem. É uma premissa de ficção científica que estamos acostumados já no vasto histórico deste cineasta. É uma série ambígua, com alguns senãos e com algumas características interessantes e que nos deixam, por um lado agarrados à sua vastidão argumentativa, por outro deixa-nos constantemente a duvidar das intenções da mesma. Ainda assim é um registo peculiar de televisão que chega mesmo na altura certa para investirmos o nosso tempo a conhecer um mundo novo e personagens particularmente diferentes e estranhas.
O MELHOR:
Raised by Wolves conta com prestações magníficas de alguns membros do seu elenco.
Amanda Collin e Abubakar Salim lideram esta narrativa com garra, numa tentativa de humanizar o ser robótico e mecânico. É também interessante a maneira como a série os trabalha de forma diferente, dando poder à protagonista Mother (Collin) como sendo uma máquina de guerra extremamente volátil e perigosa e a Father (Salim) conferindo-lhe uma doçura e dedicação que rompe com os estereótipos de género que estamos acostumados nas séries em geral.
Há também uma componente técnica bastante inovadora, desde a direção de fotografia, aos visuais específicos, nomeadamente o design de produção e cenários saídos de uma epopeia científica como o universo de Star Wars. A tela é quase sempre pintada num tom desgastado, como se o ar do planeta estivesse desprovido de cor. Para além disto, a construção narrativa, ainda que com bastantes percalços, não deixa de nos intrigar e o fluxo narrativo é extremamente diferente do habitual. Isto é, as respostas que procuramos nunca chegam na altura que queremos e, por muito enervante que seja, é um artifício atípico e que rompe com a estrutura televisiva cliché.
É também de salientar que o jovem Winta McGrath consegue arcar com responsabilidades importantes na série, ainda que o mistério da sua personagem esteja longe de ser desvendado. Ainda assim, em termos de atores, é bom ver Travis Fimmel a regressar a um papel diferente do habitual, ainda que as características de um não-muito-longínquo Ragnar Lothbrok se façam sentir na sua presença.
Mas a verdade é que é difícil definir Raised by Wolves e arranjar um equilíbrio entre a sua ambição e aquilo que, de facto, nos entrega. Se é má? Não, de todo; mas tem muitos aspetos que não funcionam na totalidade e há algumas arestas que se atrapalham a serem dadas ao público.
O PIOR:
Para além de alguns efeitos visuais penosos e demasiado ambiciosos para o caché, Raised by Wolves tem uma história que se aproxima a uma versão apocalíptica de Alien.
Como já todos sabemos, Ridley Scott é o criador e mentor deste franchise icónico do cinema, mas prefere dar continuidade ao mesmo sem necessidade, tentando desenfreadamente imortalizar a sua carreira em torno do mesmo e cuja ambição está a arruinar algo que já tem a sua marca definitiva na arte. Mas, opiniões à parte acerca disto, esperemos bem que Raised by Wolves não seja, de todo, a aproximação que estou a pensar. Mas tirem as vossas próprias conclusões neste aspeto.
Para além destes visuais estranhos e pouco credíveis, Raised by Wolves não é estável em definir o que e quem são as suas personagens. Há toda uma narrativa interessante mas pouco explorada sobre a espécie humana na série e, pior do que isso, é ainda mais difícil acompanhar o estado emocional (que supostamente seria inexistente) do duo protagonista. Tanto agem mecanicamente, como os robôs que são, como parecem seres humanos que nutrem todo o tipo de sentimentos. Uma jogada arriscada e que, para mim, torna ainda mais desafiante a análise da série.
Outra questão que me parece um pouco rebuscada e que vai dar que falar em temporadas futuras é a forma como o tempo decorre no planeta onde as personagens se encontram. Há algo em mim que me diz que este planeta é cíclico no tempo e que as personagens do passado se misturam com as do futuro, tornando a história interessante mas, ao mesmo tempo, ridícula. Acho que terão uma opinião semelhante assim que chegarem ao final da temporada. Mas, quer se ame, quer se odeie, Raised by Wolves é uma mistura muito estranha de elementos que, tanto funcionam, como não.
É daquelas experiências que, por muito que queira dizer que não presta, não consigo; mas também não consigo propriamente definir o que a série pretende fazer e/ou alcançar com a sua narrativa geralmente confusa e sem respostas. Só mesmo nos futuros capítulos é que (espero eu) consiga descobrir a sua verdadeira essência.
Estado da Série: RENOVADA
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Raised by Wolves é uma série muito pouco estável que, embora tenha elementos extremamente interessantes e diferentes do habitual, não deixa de surpreender pela negativa em muitos outros e, pior do que isso, ainda não se conseguiu definir na totalidade.
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